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domingo, 31 de janeiro de 2010

MI Matsuura vence o 4º Aberto de Verão de Florianópolis



Os dias quentes e ensolarados depois de uma semana nublada, somados às 42 praias de Florianópolis, foram duríssimos adversários para o conjunto de atividades promovidas pelo Clube de Xadrez de Florianópolis no último final de semana de janeiro de 2010. Mesmo assim, dezenas dos melhores e mais entusiasmados enxadristas de Florianópolis prestigiaram a 1ª Etapa do Blitz 2010, sexta 29, o 4º Aberto de Verão de Florianópolis (válido pela primeira etapa do rápido).

Nosso convidado de honra, o MI Everaldo Matsuura venceu as duas competições, mas não sem percalços. No Blitz, depois de perder meio ponto como Bye ausente na primeira rodada, ainda sofreu uma derrota, numa london venenosa, para o “super-pingueiro” do CXF Rodrigo Ferreira da Silva. Na mesma competição, uma outra london deu trabalho ao mestre, desta vez jogada pelo César Umetsubo. Mas nessa ocasião Everaldo encontrou recursos suficientes para escapar da derrota e fazer o ponto inteiro. Venceu o torneio com 7,5/9, seguido por Geanfrancesco Pereira (Campeão Brasileiro Amador em 2009, e Juvenil Catarinense), e o próprio Rodrigo.

Ferreira, único a beliscar um ponto do MI Matsuura.
Minha participação no relâmpago foi sofrível. O torneio estava forte, é bem verdade, mas esperava um rendimento um pouco melhor do que os 50% obtidos. Mas faz parte, e espero poder nas próximas etapas me colocar na disputa pelo circuito. Destaco, além da vitória expressiva do Ferreira, a sólida participação do João Pedro Uczai, que aumentou ainda mais sua liderança no ranking de rating da modalidade (2236).

No Aberto Verão deu a lógica, com mais facilidade. Matsuura fez 6/6, sobrando pros outros 16 competidores a luta pelas demais posições. Assim ele entrou pra a seleta galeria de campeões do evento, que inclui GM Fier, André Furlan, Martim Afonso Palma de Haro e agora Matsuura. Nessa competição fiz partidas interessantes, sobretudo contra Kaiser Mafra, Malcolm Robinsom e Herbert Moraes, em que fiz os três pontos. Na partida contra o Claudionor Pirola, jogamos a mesma inglesa de quase sempre, que acabando numa estrutura Maroczy, em que eu normalmente fico um pouco inferior de pretas, mas sólido. Empatou. E o Pirola obteve uma grande resultado sendo vice-campeão com 4,5/6.

As duas doloridas foram contra João Pedro Uczai e Daniel Brandão, dois ex-alunos. Nos dois casos avaliei a posição como igualada. No primeiro caso eu tinha razão, e de tanta razão, esqueci que precisava jogar pra empatar. Não podia simplesmente deixar de jogar porque estava empatada, e depois de um ‘a3’ despretensioso, tomei um golpe tático decisivo. Na segunda partida, aí foi um erro de avaliação mesmo. Brandão esteve sempre melhor e conduziu muito bem o final produzido.

Resolvi analisar e dividir aqui a partida com Kaiser Mafra por algumas razões: Em primeiro lugar porque fazia um tempinho que eu não o vencia. Em segundo porque foi uma variação exótica da Ruy Lopéz, em que me vi em situação nova, e me guiei apenas por lances conceituais da RL, além do cálculo. Em terceiro porque eu venci, e queira inaugurar o blog com uma vitória, e em quarto porque não é toda hora que se vence um ex-campeão estadual absoluto e brasileiro de categorias:




Bueno, em primeiro lugar, acho que 6... b5 não é o melhor. Mas não chega a ser um erro. Melhor, ou mais comum, seria 6.... de4. Mas até aqui tudo tranquilo, e meu cavalo possui algumas boas casas no centro.

10. b4?! eu considero duvidoso, ou no mínimo otimista demais. Não é um lance de desenvolvimento, e acelera a ida do meu cavalo a 'e6'. Portanto, do ponto de vista dinâmico, não me parece que ajude muito o branco. E do ponto estratégico, debilita a diagonal a1-h8, evento que veio, no futuro, a facilitar minha defesa com o lance f5, neutralizando o ataque na ala do rei. Isso eu só vim perceber mais a frente, mas na intuição, eu já sabia que o lance não era bom. O detalhe é que era possivel defender o peão de b4. O simples a3 não me parece ruim. Mas o Kaisico queria a minha cabeça, acelerar tudo e dar mate. Segui frio, pensando: "não cometi nenhum pecado para ser tão duramente castigado. Vou comer esse peão!"

14. ... f5!? segura tudo! Agora fica clara a fraqueza na diagonal preta. Se capaturar na passante, a torre da a1 está sempre caindo, e agora a ausência do peão em 'b2' ficou evidedente.  Depois da retirada do Cavalo para g3 comecei a me sentir bem.

19. Cf5?? O erro decisivo. Compreensivo numa partida rápida. Mas a posição do rei branco não ficará melhor que a rei negro, e isso é decisivo nessa posição, sobretudo com a presença do par de bispos no tablero. Daí pra frente, considero que não conduzi da melhor maneira possível, mas suficiente para assegurar o ponto. Depois de 28.... Dd5+ eu não lembro exatamente a ordem dos lances e terminei a notação, mas o Kaiser abandonou alguns lances depois.

A partida não teve grande mérito estético, tem muitos erros e imprecisões, que devem ser atenuadas por ser uma partida rápida, mas pode ser uma contribuição humilde pras crianças que estão estudando Ruy Lopez. Risos!

Na domingueira, a Joaquina, Praia Mole, Barra da Lagoa, Canasvieiras, Campeche e Ponta das Canas nos venceram. Apenas 06 jogadores se increveram para a simultânea contra o Matsuura, que venceu todos. Mas na segunda as salas do CXF estavam novamente lotadas para a clínica oferecida pelo mestre.

Agradeço aqui ao Matsuura pela simpatia, disponibilidade, educação, responsabilidade, enfim, pela grande ajuda que ele deu no desenvolvimento do xadrez da capital catarinense. Agradeço também a todos aqueles que prestigiaram as atividades. O jornal Notícias do Dia cobriu quase todas elas, e espero que esse espaço em mídia possa se reverter em mais apóio para a prática desportiva do xadrez.

3 comentários:

  1. [Corrigidos os erros de digitação, rs]

    É, meia página de Notícias do Dia!

    Agora, sobre as partidas que tu jogou contra mim e contra o Uczai tem uma coisa interessante pra notar: essas partidas que parecem simétricas ou de fácil equilíbrio tem um veneno que reside justamente na sua aparência inofensiva. Ainda que a energia esteja balanceada, se um dos lados fizer o melhor lance e o outro só fizer o segundo ou terceiro melhor lance, o primeiro vai acabar tirando vantagem de uma posição igual e aí vem o pior para quem ficou inferior - a sensação de não entender por que aquilo está acontecendo. Depois de tanta pancada na London e no Colle é que eu estou começando a me conscientizar disso...

    Valeu Pomar, e vivas ao Matsuura

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  2. Salve, Pomar! Bem, eu acredito que realmente "b4" é problemático, pq, como tu provaste na partida aparentemente, não há ataque na ala do rei. Eu, aqui em Belém do Pará, tô sem programas pra análise, mas acredito que se ele jogou b4, deveria ter jogado a4 pra distrair as peças negras, e completado o plano com algo mais rápido, como Bb2, ainda que ceda "f4". Por exemplo Ce1 é muito lento. Em suma, acredito que ele combinou disposições disntintas no tabuleiro. Pra b4, tinha que ter a4, Bb2, passagem da dama e do cavalo pra ala do rei, e etc ... muita coisa!

    Acredito que teu maior mérito foi ter jogado com praticidade. Não entendi muito bem "Be7" depois de ganhar o peão - a ala do rei tava bem povoada pelos defensores , mas no resto mais do que ser uma partida pra crianças aprenderem a jogar a Ruy Lopez, é uma mostra de como não precisamos de grandes galanteios estilísiticos quando o adversário comete imprecisões como as da partida. "Cxf5" é aparentemente muito bonito, mas acredito que perde no ato. Em suma, o que aprendi aqui é que existem posições em que devemos jogar a vaidade de lado, arregaçar as mangas e pegar o ponto. Sem mais, nem menos. Foi o que fizeste comigo! rs!

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