Os dias quentes e ensolarados depois de uma semana nublada, somados às 42 praias de Florianópolis, foram duríssimos adversários para o conjunto de atividades promovidas pelo Clube de Xadrez de Florianópolis no último final de semana de janeiro de 2010. Mesmo assim, dezenas dos melhores e mais entusiasmados enxadristas de Florianópolis prestigiaram a 1ª Etapa do Blitz 2010, sexta 29, o 4º Aberto de Verão de Florianópolis (válido pela primeira etapa do rápido).
Nosso convidado de honra, o MI Everaldo Matsuura venceu as duas competições, mas não sem percalços. No Blitz, depois de perder meio ponto como Bye ausente na primeira rodada, ainda sofreu uma derrota, numa london venenosa, para o “super-pingueiro” do CXF Rodrigo Ferreira da Silva. Na mesma competição, uma outra london deu trabalho ao mestre, desta vez jogada pelo César Umetsubo. Mas nessa ocasião Everaldo encontrou recursos suficientes para escapar da derrota e fazer o ponto inteiro. Venceu o torneio com 7,5/9, seguido por Geanfrancesco Pereira (Campeão Brasileiro Amador em 2009, e Juvenil Catarinense), e o próprio Rodrigo.
Ferreira, único a beliscar um ponto do MI Matsuura.
Minha participação no relâmpago foi sofrível. O torneio estava forte, é bem verdade, mas esperava um rendimento um pouco melhor do que os 50% obtidos. Mas faz parte, e espero poder nas próximas etapas me colocar na disputa pelo circuito. Destaco, além da vitória expressiva do Ferreira, a sólida participação do João Pedro Uczai, que aumentou ainda mais sua liderança no ranking de rating da modalidade (2236).
No Aberto Verão deu a lógica, com mais facilidade. Matsuura fez 6/6, sobrando pros outros 16 competidores a luta pelas demais posições. Assim ele entrou pra a seleta galeria de campeões do evento, que inclui GM Fier, André Furlan, Martim Afonso Palma de Haro e agora Matsuura. Nessa competição fiz partidas interessantes, sobretudo contra Kaiser Mafra, Malcolm Robinsom e Herbert Moraes, em que fiz os três pontos. Na partida contra o Claudionor Pirola, jogamos a mesma inglesa de quase sempre, que acabando numa estrutura Maroczy, em que eu normalmente fico um pouco inferior de pretas, mas sólido. Empatou. E o Pirola obteve uma grande resultado sendo vice-campeão com 4,5/6.
As duas doloridas foram contra João Pedro Uczai e Daniel Brandão, dois ex-alunos. Nos dois casos avaliei a posição como igualada. No primeiro caso eu tinha razão, e de tanta razão, esqueci que precisava jogar pra empatar. Não podia simplesmente deixar de jogar porque estava empatada, e depois de um ‘a3’ despretensioso, tomei um golpe tático decisivo. Na segunda partida, aí foi um erro de avaliação mesmo. Brandão esteve sempre melhor e conduziu muito bem o final produzido.
Resolvi analisar e dividir aqui a partida com Kaiser Mafra por algumas razões: Em primeiro lugar porque fazia um tempinho que eu não o vencia. Em segundo porque foi uma variação exótica da Ruy Lopéz, em que me vi em situação nova, e me guiei apenas por lances conceituais da RL, além do cálculo. Em terceiro porque eu venci, e queira inaugurar o blog com uma vitória, e em quarto porque não é toda hora que se vence um ex-campeão estadual absoluto e brasileiro de categorias:
Bueno, em primeiro lugar, acho que
6... b5 não é o melhor. Mas não chega a ser um erro. Melhor, ou mais comum, seria 6.... de4. Mas até aqui tudo tranquilo, e meu cavalo possui algumas boas casas no centro.
10. b4?! eu considero duvidoso, ou no mínimo otimista demais. Não é um lance de desenvolvimento, e acelera a ida do meu cavalo a 'e6'. Portanto, do ponto de vista dinâmico, não me parece que ajude muito o branco. E do ponto estratégico, debilita a diagonal a1-h8, evento que veio, no futuro, a facilitar minha defesa com o lance f5, neutralizando o ataque na ala do rei. Isso eu só vim perceber mais a frente, mas na intuição, eu já sabia que o lance não era bom. O detalhe é que era possivel defender o peão de b4. O simples a3 não me parece ruim. Mas o Kaisico queria a minha cabeça, acelerar tudo e dar mate. Segui frio, pensando: "não cometi nenhum pecado para ser tão duramente castigado. Vou comer esse peão!"
14. ... f5!? segura tudo! Agora fica clara a fraqueza na diagonal preta. Se capaturar na passante, a torre da a1 está sempre caindo, e agora a ausência do peão em 'b2' ficou evidedente. Depois da retirada do Cavalo para g3 comecei a me sentir bem.
19. Cf5?? O erro decisivo. Compreensivo numa partida rápida. Mas a posição do rei branco não ficará melhor que a rei negro, e isso é decisivo nessa posição, sobretudo com a presença do par de bispos no tablero. Daí pra frente, considero que não conduzi da melhor maneira possível, mas suficiente para assegurar o ponto. Depois de 28.... Dd5+ eu não lembro exatamente a ordem dos lances e terminei a notação, mas o Kaiser abandonou alguns lances depois.
A partida não teve grande mérito estético, tem muitos erros e imprecisões, que devem ser atenuadas por ser uma partida rápida, mas pode ser uma contribuição humilde pras crianças que estão estudando Ruy Lopez. Risos!
Na domingueira, a Joaquina, Praia Mole, Barra da Lagoa, Canasvieiras, Campeche e Ponta das Canas nos venceram. Apenas 06 jogadores se increveram para a simultânea contra o Matsuura, que venceu todos. Mas na segunda as salas do CXF estavam novamente lotadas para a clínica oferecida pelo mestre.
Agradeço aqui ao Matsuura pela simpatia, disponibilidade, educação, responsabilidade, enfim, pela grande ajuda que ele deu no desenvolvimento do xadrez da capital catarinense. Agradeço também a todos aqueles que prestigiaram as atividades. O jornal Notícias do Dia cobriu quase todas elas, e espero que esse espaço em mídia possa se reverter em mais apóio para a prática desportiva do xadrez.